Quase um terço das vítimas de tráfico de pessoas no mundo são crianças, aponta relatório global
Quase um terço das vítimas de tráfico de pessoas no mundo são crianças, de acordo com o Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas 2016, publicado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). O documento, divulgado em dezembro do ano anterior, também revela que mulheres e meninas representam 71% do total de vítimas desse crime.
Formas mais comuns de tráfico humano
Segundo o relatório, as modalidades mais comuns de tráfico incluem:
- Exploração sexual;
- Trabalho forçado.
Além disso, há relatos de tráfico com fins de mendicância, casamento forçado ou fraudulento e até produção de pornografia. O Diretor Executivo do UNODC, Yury Fedotov, destacou que as mulheres e meninas são frequentemente traficadas para exploração sexual ou matrimônio forçado, enquanto homens e meninos são usados como mão de obra na mineração, carregadores, soldados ou escravos.
Crianças como alvo principal em algumas regiões
Embora 28% das vítimas globais sejam crianças, em áreas como a África Subsaariana e a América Central e Caribe, essa proporção chega a 62% e 64%, respectivamente. Esses números alarmantes refletem vulnerabilidades regionais específicas, como pobreza e falta de proteção.
Tráfico humano, migração e conflitos
O relatório também discute a relação entre tráfico humano, fluxos migratórios e situações de conflito. De acordo com Fedotov, pessoas que fogem de guerras ou perseguições estão especialmente vulneráveis ao tráfico. Decisões migratórias arriscadas aumentam essa exposição, como no caso da Síria, onde o número de vítimas aumentou significativamente após o início do conflito.
Fatores que agravam a vulnerabilidade ao tráfico durante a migração
- Presença de crime organizado no país de origem;
- Condições socioeconômicas precárias.
Esses elementos tornam a identificação e o apoio às vítimas desafios significativos para os sistemas de justiça.
Conexão com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
O UNODC reforça que combater o tráfico de pessoas está diretamente relacionado ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, especialmente os que tratam de igualdade de gênero, trabalho digno e justiça.
Situação do tráfico de pessoas na América do Sul
Perfil das vítimas na região
Entre 2012 e 2014, cerca de 5.800 vítimas foram identificadas na América do Sul, sendo a maioria mulheres (45%). Além disso, meninas representam uma parcela significativa das vítimas. Os casos de tráfico de crianças alcançaram 40% do total identificado no período.
Finalidades do tráfico
Na região:
- 57% das vítimas foram traficadas para exploração sexual;
- Um terço foi explorado como mão de obra forçada.
O Brasil se destacou, com um número elevado de casos de trabalho análogo à escravidão e servidão forçada, totalizando cerca de 3.000 vítimas por ano. Outros crimes identificados incluem adoção ilegal, venda de bebês (4%) e produção de pornografia (2,5%).
Tráfico transfronteiriço
A América do Sul apresenta um cenário marcado pelo tráfico interno e transfronteiriço. Casos incluem:
- Vítimas bolivianas identificadas na Argentina e no Chile;
- Vítimas paraguaias traficadas para a Argentina;
- Cidadãos de Paraguai, Peru e Bolívia encontrados no Brasil.
Principais países envolvidos
- Destinos: Argentina, Chile e Uruguai.
- Países de origem: Paraguai e Bolívia.
Esforços de combate ao tráfico na América do Sul
Apesar do alto número de investigações, a taxa de condenação é baixa. Entre 2012 e 2014:
- Apenas 13 em cada 100 suspeitos foram condenados em primeira instância;
- A Argentina se destacou com até 60 condenações anuais.
O relatório também menciona que mudanças na legislação brasileira, aprovadas em outubro de 2016, podem influenciar os dados regionais no futuro.
Conclusão
O Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas 2016 traz dados alarmantes sobre o impacto desse crime, especialmente em crianças e populações vulneráveis. Apesar dos avanços em investigações, ainda há muito a ser feito para proteger as vítimas e garantir que os responsáveis sejam punidos. O combate ao tráfico humano é essencial para alcançar uma sociedade mais justa e igualitária.